Era viciado em
leituras, seduzido, ainda antes de saber ler, pelas gravuras que encontrava em
livros e revistas nas estantes do escritório do avô, o Visconde de Tremembé. “A
biblioteca de meu avô é ótima, tremendamente histórica e científica. Merecia
uma redoma… Cada vez que me pilhava na biblioteca do meu avô, abria um daqueles
volumes e me deslumbrava.” “Mais tarde te contarei a minha doença ‘delirium
legens’, espécie de ‘delirium tremens’ dos bêbados. Leio tanto que quando vou
para a cama meu cérebro continua a ler
maquinalmente.” Ou ainda: “A civilização me fez ‘um animal que lê’, como um
porco é um animal que come. Dois meses já sem leitura me vêm deixando
estranhamente faminto: imagine Rabicó sem cascas de abóbora por 30 dias!”
Obrigado pela
família a cursar Direito, Monteiro Lobato (18 de abril de 1882 – 4 de julho de
1948) devorava literalmente tudo o que lhe fosse parar às mãos, comprazendo-se
com os clássicos e tomando então consciência da exígua quantidade de obras
destinadas a olhos infantis. Fazendeiro, empresário, político, escritor,
editor, envereda definitivamente pela produção de livros para crianças em 1926,
depois do sucesso das traduções das suas obras no estrangeiro: “Ando com ideias
de entrar por esse caminho: livros para crianças. De escrever para marmanjos já
me enjoei. Bichos sem graça. Mas para as crianças um livro é todo um mundo.
Lembro-me de como vivi dentro do ‘Robinson Crusoé’ de Laemmert. Ainda acabo
fazendo livros onde as nossas crianças possam morar. Não ler e jogar fora, sim
morar, como morei no ‘Robinson’ e no ’’Os filhos do Capitão Grant’.” Monteiro
Lobato era espírita.